Efeitos do treinamento funcional com cargas sobre a composição corporal: Um estudo experimental em mulheres fisicamente inativas (Adaptado)
Introdução
O presente estudo objetivou analisar os efeitos do treinamento funcional com cargas (TFC) na composição corporal de mulheres fisicamente inativas. Vinte mulheres (25.70 ± 4.20 anos) foram designadas aleatoriamente para os grupos experimental (GE, n = 10) e controle (GC, n = 10), tendo o GE realizado 12 semanas de TFC, enquanto o GC não recebeu qualquer intervenção. As variáveis antropométricas avaliadas em ambos os grupos foram: massa corporal (MC), estatura, índice de massa corporal (IMC), massa de gordura absoluta, massa corporal magra (MCM) e percentual de gordura (%G). Os testes t de Student independente e pareado foram utilizados para a comparação das médias inter e intra-grupos experimental e controle (p < .05). O GE apresentou reduções significativas nos valores de %G (p < .001), enquanto o GC aumentou seus níveis de MCM (p < .001), IMC (p < .001) e MC (p = .021). Os resultados indicaram que após de 12 semanas o TFC reduz os níveis de gordura corporal, mas não promove aumentos de MCM em mulheres fisicamente inativas.
No decorrer da última década estudos demonstraram que a prática regular do treinamento de força é capaz de promover inúmeras adaptações no corpo humano, tendo como ênfase o aperfeiçoamento de capacidades físicas (Folland, & Williams, 2007; Park, Kim, Komatsu, Park, & Mutoh, 2008) e alterações estruturais indicadoras de redução dos níveis de tecido adiposo (Hansen, Dendale, Berger, Van Loon, & Meeusen, 2007), assim como de aumentos de massa muscular (Abe, Dehoyos, Pollock, & Garzarella, 2000), densidade óssea (Bocalini, Serra, Dos Santos, Murad, & Levy, 2009) e resistência do tecido conjuntivo (Reeves, Maganaris, & Narici, 2003).
Contudo, mesmo apresentando grande evidência nos centros de treinamento ou mesmo no cotidiano dos indivíduos fisicamente ativos, além da existência de dados científicos confirmando os seus benefícios, questionamentos foram levantados na literatura sobre a efetividade do treinamento de força realizado em sua forma tradicional (sobre bases estáveis) em melhorar a aptidão física quando esta é direcionada à realização das atividades do dia-a-dia, uma vez que muitas tarefas do cotidiano são executadas sobre condições de instabilidade física (Behm & Anderson, 2006).
Como alternativa para essa possível limitação, o treinamento funcional com cargas (TFC) vem se consolidando como uma estratégia empregada não apenas com o objetivo de promover o aprimoramento do desempenho físico, mas também voltado ao processo de reabilitação e prevenção de lesões (Peate, Bates, Lunda, Francis, & Bellamy, 2007).
Segundo Hibbs, Thompson, French, Wrigley e Spears (2008), o TFC consiste em um conjunto de movimentos multiarticulares caracterizados por níveis de alta e baixa intensidade, que são realizados visando tanto a melhoria do controle, estabilidade e coordenação motora, via modulação do sistema nervoso central (core stability), como o aumento da massa muscular (core strength), sendo esta considerada uma adaptação ao treinamento de sobrecarga.
Frente ao destaque apresentado pelo TFC nos dias atuais, observa-se na literatura um grande número de estudos relatando as possíveis respostas adaptativas decorrentes da sua prática, podendo destacar aumentos de força e equilíbrio em mulheres e homens destreinados (Spennewyn, 2008), acentuação dos níveis de potência muscular em atletas (Myer, Ford, Palumbo, & Hewett, 2005), aceleração do período de recuperação muscular pós-exercício extenuante (Nevalta & Hrncir, 2007), além da redução do risco de lesões ortopédicas e melhoras do processo de reabilitação em indivíduos que apresentam funções laborais de risco (Peate et al., 2007).
Apesar de investigações indicarem que o TFC está diretamente associado às adaptações neuromusculares que ocorrem em decorrência de uma melhor ação coordenada dos músculos agonistas, antagonistas, sinergistas e estabilizadores do movimento, no contexto das academias de ginástica, o mesmo se apresenta incluído nos programas de atividade física, sendo realizado em forma de circuito combinado (exercícios aeróbios e de força), de pessoas que buscam como principal objetivo alterações na composição corporal, em especial, redução dos níveis de gordura corporal. Em se tratando dos efeitos do treinamento em circuito realizado com deslocamento de cargas (circuit weight training) sobre a composição corporal, estudos demonstram que reduções de gordura corporal são observadas apenas nas situações em que o treinamento está associado a dietas hipocalóricas (Fett, Fett, & Marchini, 2009; Kerksick et al., 2009).
Ao se buscar relacionar esses resultados ao TFC, lacunas são observadas não permitindo respostas conclusivas, uma vez que a instabilidade que caracteriza este tipo de treinamento e uso de sobrecargas de tipos variados (extensores) podem promover efeitos distintos sobre a composição corporal. Diante desta perspetiva, o desenvolvimento do presente estudo é norteado pela seguinte questão: o TFC promove alterações na composição corporal? Frente ao exposto, esta investigação tem como objetivo analisar os efeitos de 12 semanas de TFC sobre a composição corporal de mulheres fisicamente inativas.
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