Outros autores seguem esse
mesmo raciocínio. Davies (1994) esclarece que a ciência tem de abarcar mais do que a
mera catalogação de fatos e de descoberta, através da tentativa e erro, de maneiras de
proceder que funcionem. O que é peça-chave na verdadeira ciência é o fato de envolver a
descoberta de princípios que subjazem e conectam os fenômenos naturais.
A ciência
verdadeira consiste em saber em que circunstâncias as coisas funcionam. O autor acima
referido ainda afirma que podemos analisar o fato de que a aplicação do conhecimento
científico, da compreensão das leis que regem os diversos fenômenos, resulta em
acréscimo da produtividade na geração de novas tecnologias, quando comparada ao
método da tentativa e erro.
As transmissões de sons, imagens e dados via ondas
eletromagnéticas, o uso da energia nuclear, a produção de insulina humana por bactérias
geneticamente modificadas, nada disso seria possível sem a compreensão teórica profunda
dos diversos fenômenos subjacentes a essas tecnologias. Segundo Dasgupta e David
(1994), a ciência é, portanto, um conjunto de atividades cuja organização conduz ao rápido
crescimento do conhecimento, enquanto as tarefas relacionadas com a tecnologia buscam
alcançar o rápido crescimento dos benefícios materiais a partir do novo conhecimento.
Em
torno da década de 1930, tendo sido reconhecida a combinação entre as esferas científica
e tecnológica como forma de alavancar o movimento de inovação e o valor econômico das
novas tecnologias, começaram a ser desenvolvidos modelos que procuravam detalhar os processos de interação entre Ciência e Tecnologia como criadores de inovações
tecnológicas, com o intuito de embasar, com conhecimentos, os esforços político financeiros de apoio à inovação tecnológica.
De acordo com Pinto (2012), o primeiro e mais simples foi o Modelo Linear de
Inovação ou science push. Segundo esse modelo, o processo de inovação tecnológica é
iniciado pela pesquisa básica, passando pela pesquisa aplicada, pelo desenvolvimento,
pela engenharia até chegar à comercialização pioneira.
A aplicação do modelo linear de inovação, difundido até recentemente, remonta ao período pós-guerra e baseou-se no relatório Science: the endless frontier, desenvolvido por Vannevar Bush. Foi adotado no fim da década de 1950 como base para as políticas de C&T dos Estados Unidos e da maioria dos países industrializados.
A aplicação do modelo linear de inovação, difundido até recentemente, remonta ao período pós-guerra e baseou-se no relatório Science: the endless frontier, desenvolvido por Vannevar Bush. Foi adotado no fim da década de 1950 como base para as políticas de C&T dos Estados Unidos e da maioria dos países industrializados.
Segundo Conde e Araújo Jorge (2003), a inovação na concepção linear, em especial na abordagem science push, é
compreendida como uma sequência de estágios em que novos conhecimentos, advindos
da pesquisa científica, levariam a processos de invenção que seriam seguidos por
atividades de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico, resultando, ao final da
cadeia, na introdução de produtos e processos comercializáveis.
O esquema linear colocou
as bases da política de ciência e tecnologia nos EUA, na primeira metade do século XX,
tendo influenciado sobre a definição de políticas semelhantes em vários países do mundo,
incluindo o Brasil. Podemos aqui, no entanto, relatar que este modelo apresenta algumas
restrições.
Começamos divisão do trabalho entre as esferas empresarial e científica (as
atividades de pesquisa básica e aplicada pertenceriam ao reino da ciência e as atividades
de desenvolvimento e engenharia ao domínio da tecnologia, conforme classificação
proposta por Dasgupta e David (1994), vista anteriormente).
Em seguida, podemos relatar
que este modelo admite, hipoteticamente, que a transferência, para a esfera empresarial,
dos conhecimentos gerados na esfera científica é um processo “natural”. E, em terceiro, não reconhece as diferenças entre os campos de conhecimento, em termos de produção
de resultados com potencial econômico.
Assim, a evolução da ciência não é autônoma,
pois são interferidos diretamente por políticas públicas – nas quais o administrador público
tem responsabilidade direta – e pelas trajetórias tecnológicas. A relação entre C&T mostra
um caráter interativo que também abrange os contextos político, econômico e tecnológico
de cada país ou região, que serão mostrados mais adiante.
A evidência principal em favor
do Modelo Linear de Inovação, segundo Iacono & Almeida (2011) é a de que a ciência
básica tem, de maneira efetiva, cria do oportunidades significativas para algumas
aplicações tecnológicas lucrativas. No entanto, apesar de explicar o processo de inovação
que levou ao laser e à bomba atômica, o modelo linear não explica completamente
inovações que tenham sido motivadas pela percepção de necessidades não atendidas
como o desenvolvimento de motores elétricos e aparelhos eletrodomésticos ou corantes,
antibióticos e explosivos.
O Modelo Linear Reverso aponta todo o foco do processo de inovação na demanda
identificada no mercado. Dessa forma, o conhecimento científico fica subordinado a
solucionar problemas surgidos na procura pelo atendimento às deficiências de mercado
(IACONO & ALMEIDA, 2011). Ao longo da história das criações, é possível observar que
as experiências de Thomas Edison com o fonógrafo, por exemplo, demonstraram que a
precisão não é, indispensavelmente, a mãe da invenção, ou seja, nem sempre a invenção
é influenciada pelas condições de demanda.
Os dois modelos estudados até aqui são
parciais. Explanam parte do processo de inovação, mas não o seu todo. A estrutura linear
demonstra-se insuficiente para demonstrar efetivamente a inovação como processo.
A obrigação de se ter modelos que explicassem melhor a interação entre Ciência, Tecnologia e Inovação conduziu aos trabalhos de Kline (1978) e Kline e Rosenberg (1986), que propuseram o Modelo de Ligações em Cadeia ou chain linked model, que enfatiza a permanente retroalimentação entre as diversas fases do processo.
Pinto (2012) exemplifica esse processo com o caso do desenvolvimento de um novo modelo de aeronave por uma empresa como a Embraer. Desde a etapa inicial de levantamento de requisitos para a elaboração do projeto da aeronave, até os testes finais, são envolvidos, no processo, engenheiros das mais variadas especialidades e conhecimentos (aeronáuticos, mecânicos, de automação, de softwares, para citar apenas alguns), mas também são consultados passageiros, pilotos, comissários de bordo, agentes de viagem, atendentes das companhias aéreas, mecânicos de manutenção das aeronaves, ou seja, todos os tipos de atores que têm envolvimento com a futura aeronave e pontos de vista diferentes sobre os produtos similares já existentes no mercado; são pessoas que podem ter contribuições relevantes a dar para que o produto seja efetivamente uma inovação bem-sucedida.
modelo linear reverso ou demand pull
A obrigação de se ter modelos que explicassem melhor a interação entre Ciência, Tecnologia e Inovação conduziu aos trabalhos de Kline (1978) e Kline e Rosenberg (1986), que propuseram o Modelo de Ligações em Cadeia ou chain linked model, que enfatiza a permanente retroalimentação entre as diversas fases do processo.
Esse modelo, segundo
Pinto (2012), sugere que o processo de inovação pressupõe a existência de múltiplas
sequências de interação entre as suas diversas etapas e a existência de muitas formas de
ampliação do estoque de conhecimentos, e não apenas avanços no campo científico.
Assim, neste modelo, a cadeia central de inovação é embasada por múltiplos elos internos
de retroalimentação do processo. Toda a cadeia central de inovação articula com as
atividades de pesquisa - fontes de novos conhecimentos para o processo de inovação.
Pinto (2012) exemplifica esse processo com o caso do desenvolvimento de um novo modelo de aeronave por uma empresa como a Embraer. Desde a etapa inicial de levantamento de requisitos para a elaboração do projeto da aeronave, até os testes finais, são envolvidos, no processo, engenheiros das mais variadas especialidades e conhecimentos (aeronáuticos, mecânicos, de automação, de softwares, para citar apenas alguns), mas também são consultados passageiros, pilotos, comissários de bordo, agentes de viagem, atendentes das companhias aéreas, mecânicos de manutenção das aeronaves, ou seja, todos os tipos de atores que têm envolvimento com a futura aeronave e pontos de vista diferentes sobre os produtos similares já existentes no mercado; são pessoas que podem ter contribuições relevantes a dar para que o produto seja efetivamente uma inovação bem-sucedida.
Pinto (2012) reafirma que o reconhecimento da complexidade da onda de inovação
tem sido cada vez maior. Nos dias atuais, sabe-se que todas as diversas interações
necessárias para que o processo de inovação aconteça dependem não somente das
organizações centrais desse processo (as empresas e as organizações geradoras de novos
conhecimentos como universidades e institutos de pesquisa), mas de toda a rede de
instituições dos setores público e privado, cujas atividades e interações iniciam, importam,
modificam e difundem novas tecnologias.
Ainda segundo Pinto (2012), com a perspectiva econômica lançada à inovação por
Schumpeter a partir do século XX, inovar passou a significar não apenas criar algo
tecnologicamente novo, mas dar destinação econômica para uma nova ideia. Nos dias de
hoje, é totalmente reconhecida a importância central da inovação no desenvolvimento
econômico das sociedades.
Produtos inovadores criam mercados consumidores novos, e
processos novos de produção podem implicar em menores custos de produção e, portanto,
menores preços e aumento de vendas.
Novas formas de venda, por exemplo, pela internet,
podem também significar o alcance de novos mercados consumidores, o que implicará em
aumentos de escala de produção e diminuição de custos.
Segundo Pinto (2012), essas são apenas algumas situações que demonstram a
relevância da inovação tecnológica nas sociedades capitalistas contemporâneas.
A
principal referência para esse fim é o Manual de Oslo, documento desenvolvido pela
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Composta por 34
países que possuem como característica comum a
democracia e o apoio à livre economia de mercado,
a OCDE tem como seu principal intuito viabilizar que
os países membros possam discutir, dimensionar,
comparar e coordenar problemas e políticas em
comum que tenham como propósito o
desenvolvimento científico e econômico.
Fazem
parte da lista de signatários a França, a Itália, os
EUA, Portugal, Reino Unido, México e Chile. O
Brasil ainda não é signatário, porém atua de forma
bastante próxima à organização.
A OCDE tem como uma das contribuições mais
importantes para esta ciranda científico-diplomática a publicação de uma série de manuais
que, embora publicados ao longo dos anos, possuem metas similares: definir a teoria,
propor metodologias e parametrizar a coleta de estatísticas em atividades de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação nos países integrantes.
De acordo com a OECD (1997), as
inovações podem ser classificadas, quanto ao seu foco, em: inovações de produto, de
processo e organizacionais. As observações a seguir foram feitas com base em Pinto
(2012).
As inovações de produto se referem à inserção de produtos tecnologicamente
inovadores, cujos atributos diferem de forma significativa de todos os produtos antes já
desenvolvidos. Isso inclui ainda os aperfeiçoamentos de produtos previamente existentes,
onde os desempenhos tenham sido aprimorados significativamente, por meio de novas
matérias-primas ou componentes de maior ganho.
Como exemplos de inovação de produto
temos os televisores de LED; refrigeradores frost-free, os quais não precisam de
descongelamento; carros elétricos; notebooks etc. As inovações de processo são formas
de operação novas ou aprimoradas tecnologicamente, de forma substancial, que são
obtidas pela inserção de tecnologias novas de produção, assim como de metodologias
novas ou notadamente aperfeiçoadas de manuseio e entrega de produtos.
Tais inovações
alteram de modo considerável a qualidade dos produtos ou do custeio de produção e entrega. Um exemplo interessante é o sistema de autosserviço (self-service) nos
restaurantes, o qual reduziu significativamente o custo e o tempo para se fazer as refeições
nesses lugares.
Por fim as inovações organizacionais referem-se a transformações que acontecem
na estrutura gerencial da empresa, na forma de articulação entre suas diferentes áreas, no
relacionamento com fornecedores e clientes, na especialização dos trabalhadores e nas
múltiplas técnicas de organização dos processos de negócios. A adoção de técnicas Just-in-time (produção sob demanda em tempo real) nas metodologias produtivas da
organização é um exemplo disso.
No que se refere ao grau de novidade, as inovações
podem ser radicais ou
incrementais, segundo Tigre
(2006). As inovações radicais
representam o desenvolvimento e
a introdução de novos produtos,
processos ou formas de
organização totalmente novos,
para os quais não há precedentes.
Esse tipo de inovação rompe com os padrões tecnológicos anteriores, dando origem a
novos mercados, setores ou indústrias. As inovações incrementais, por outro lado,
conforme observa Tigre (2006), abrangem melhorias feitas no design ou na qualidade dos
produtos, aperfeiçoamentos em layout e processos, novos arranjos logísticos e
organizacionais e novas práticas de suprimentos e vendas.
As inovações incrementais
ocorrem de forma contínua em qualquer indústria. Elas não derivam necessariamente de
atividades de Pesquisa e Desenvolvimento e, comumente, resultam do processo de
aprendizado interno e da capacitação acumulada.
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escritórios nacionais em relação ao produto interno bruto (PIB), em 2004. Brasília, 2006.
Disponível em: <http://www.mct.gov.br/
index.php/content/view/9238.html>. Acesso em: 23 maio 2012. ________.
Concessão de patentes pelo Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI), segundo a origem do depositante, 1998-2008. Brasília, 2010a.
Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/ view/5695.html>. Acesso em: 23
maio 2012.
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Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES :
UAB, 2012. 152p.
ANDREASSI, Tales et al. Empreendedorismo no Brasil: 2012. Curitiba: Instituto
Brasileiros de Qualidade e Produtividade (IBQP), 2012. Disponível em: . Acesso em:
04/02/2013.
ANDREASSI, Tales et al. Empreendedorismo no Brasil: 2013. Curitiba: Instituto
Brasileiros de Qualidade e Produtividade (IBQP), 2013. Disponível em: . Acesso em:
04/02/2013.
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investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova
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(Cepal) - ONU e MCTI, Natal, 2012. Disponível em: . Acesso em: 14/09/2013.
SANTOS, D.A.; BOTELHO, L.; SILVA, A.N.S. Ambientes Cooperativos no Sistema
Nacional de Inovação: o Suporte da Gestão do Conhecimento. UFSC, 2006. Disponível em:
. Acesso em: 04/10/2013.
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